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O que é o Sagrado Coração de Jesus?

Atualizado: 27 de jul.

Sagrado Coração de Jesus
Sagrado Coração de Jesus

«A essência da devoção ao Santíssimo Coração de Jesus consiste em meditarmos e venerarmos, na imagem simbólica do coração, a caridade imensa e as amorosas expansões do nosso divino Redentor » (1).

 

I

Coração de Jesus quer, por certo, dizer o coração humano, o coração de carne do divino Salvador, aquele coração que pulsou em seu peito durante a vida mortal, a quem sobre a cruz alanceou o soldado, e que Jesus Cristo ressuscitado conserva ainda em sua gloriosa humanidade. É o coração de carne, porém enquanto símbolo ou emblema da caridade de Jesus Cristo, de seu amor para com seu Pai e os homens.

De feito, bem como o homem se compõe de um corpo visível e de uma alma invisível, como consta a palavra de vocábulos que o ouvido percebe e de ideias apreendidas pela mente por meio dos vocábulos, assim também o objeto da devoção ao Coração de Jesus se compõe de um elemento material, sensível, que é como o corpo deste culto — o Coração de Jesus — e de um elemento espiritual, que é sua alma — a caridade a trasbordar do Coração do Salvador. 

Separar estes dois elementos seria mutilar a devoção ao Sagrado Coração. Consentiam, em rigor, os jansenistas que se honrasse a caridade de Jesus, não, porém, seu Coração de carne: não possuíam o culto do Coração de Jesus. Outros, ao invés, queriam honrar tão somente o coração sensível, fazendo da caridade de Jesus o motivo — não o objeto — de seu culto: não têm, eles tão pouco, uma ideia cabal da devoção ao Sagrado Coração.

Fiquemos, pois, em que o objeto desta devoção é, juntamente, o coração de carne de Jesus e o amor que o faz pulsar: elemento simbólico é o coração, elemento simbolizado, o amor. Debaixo deste símbolo do coração, diz a liturgia, é o amor que se adora: “Sub symbolo cordis, recolitur amor”.(2).

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(1) « Substantia devotionis SS. Cordis Iesu eo spectat, ut in symbolica cordis imagine, immensam caritatem effusumque amorem divini Redemptoris nostri meditemur atque veneremur. » Pius VI ad episc. Prato-Pistor., 30 de Janeiro de 1781).

(2) « Quam caritatem, ut fideles sub SS. Cordis symbolo ferventius recolant., etc. » (Offic., lect. VI).


II

Porque devemos adorar o Coração de Jesus — objeto sensível da devoção

 

Sabe todo cristão que, de duas naturezas indissolúveis, hipostaticamente unidas, se compõe a pessoa de Nosso Senhor: a natureza divina do Verbo, segunda pessoa da augusta Trindade, e uma natureza humana. Em força desta união, Jesus Cristo é, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus e homem verdadeiro, Maria, ao gerar o Salvador, se tornou realmente Mãe de um Deus, e, enfim, corpo de um Deus é, na verdade, o corpo de Jesus Cristo.

      Que seja adorável este corpo de um Deus, não há como duvidá-lo. Foi-o sempre, mesmo quando exânime jazia no sepulcro, porque nunca o abandonou o Verbo; adorável em todas e cada uma de suas partes, porque a Deus pertencem igualmente todas; adorável, portanto, em seu Coração.

Devo, pois, adorar o Coração de Jesus porque é divino. Mas quando eu beijo as mãos a um príncipe ou os pés ao Santo Padre, não pára esta homenagem na mão ou nos pés a que eu abraço, sim — facilmente o entendem todos — na pessoa mesma do príncipe ou do Papa. Assim também, quando eu adoro o Coração de Jesus, minha adoração não pára nele, atinge a pessoa inteira de Jesus, a pessoa atualmente glorificada do Filho de Deus feito homem.


Ainda assim, para prestar a esta parte do corpo de Jesus Cristo um culto especial, foi mister que uma razão suficiente o motivasse. Posto que adoráveis sejam os membros todos do Salvador, a Igreja, com efeito, não autorizaria prestar a todos um culto especial. Se permitiu o culto do Coração de Jesus, foi depois de verificar que o exigiam razões excepcionais.

      Estas razões vêm a ser: a excelência, muito particularmente simbólica, do coração no organismo humano; o atrativo providencial que sobre os santos exercera sempre o Coração de Jesus aberto sobre o Calvário; são enfim as expressas revelações e a vontade claramente manifesta de Nosso Senhor.



III

Porque devemos honrar a caridade de Jesus — objeto espiritual da devoção.


A razão última de adorarmos o coração físico de Jesus é que, nele e por ele, honramos o amor — amor duplo, criado e incriado, humano e divino — de que este coração é símbolo e emblema (1). Ora, nada há tão digno da adoração dos anjos e dos homens como o amor em que arde o Coração do Filho de Deus.


  Cumpre, com efeito, advertir que não está nos dons exteriores e nas qualidades do corpo ou do espírito o valor de um homem. Os homens, não o podemos negar, regulam sua mútua apreciação pelo exterior, desprezam ou admiram a externa e falaz aparência. Penetrante, ao invés, é o olhar de Deus, que passa além desta superfície mais ou menos hipócrita. Para reconhecermos alguém, fitamos o rosto: Deus olha o coração — Dominus autem intuetur cor (2) — e a seus olhos tanto vale um homem quanto vale seu coração, i. é. sua vontade, seus afetos e o amor que lhe estua no peito. Se o coração é bom, é bom o homem; se é mau o coração, mau é o homem: no coração, só, é que Deus olha os homens.

Pois bem, para conhecê-lo a Ele também, quer que lhe observemos o Coração. O poder, a força, a riqueza, não é o que Ele quer que nele admiremos. Ato essencial de seu ser é o amor — Deus caritas est. É o amor, portanto, que nele cumpre amar (3). E, em especial, Deus feito homem, Jesus Cristo, como todos os homens seus irmãos, pelo coração é que vale; ao íntimo do coração é, pois, que devemos dirigir as vistas para compreendermos o que é.

«Fui objeto de seu amor — Dilexit me! — », exclama Paulo, enleado. «Nós, diz S. João, nós somos dos que creem na caridade de Cristo». Ver, em Jesus, o amor que nos teve e que, só, explica a encarnação; crer nesta caridade em que ardeu para com seu Pai e os homens, é compreender deveras a Jesus.

Mas, pelos seres materiais é que chegamos ao conhecimento do imaterial. Eis porque Deus, querendo dar-nos a entender o seu amor, nos mandou seu Verbo encarnado (4); e eis por que o Filho, para reavivar a nossa fé em seu amor, nos aponta, por sua vez, o seu coração.

«Aqui está o Coração que tanto amou os homens!» Este Coração que se nos apresenta está, pois, repleto, a trasbordar de amor; com ele e nele, é o amor que adoramos.

Não é, portanto, uma mística sutileza a esquadrinhar um ser imaginário. Seu objeto é o que há de mais nobre, de maior: seu objeto enche o mundo. É o amor que nos tem Jesus Cristo, Verbo encarnado, aquele amor donde nasceu a Redenção, e que será nosso eterno arrebatamento no céu.

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(1) «Quando eu adoro o Coração de Jesus, adoro aquele transporte de caridade eterna que levou o Verbo de Deus a oferecer-se como vítima pelo resgate ». (Card. Pie).

(2) Reg., XVI, 7.

(3) «Chamas-me teu grande Deus, teu Mestre, teu Senhor, e dizes bem, pois isso tudo sou eu, mas sou também caridade. Amor — é meu nome: este nome, quero que mo dês. De nenhum outro tanto me agrado; nenhum outro expressa melhor o que eu sou para com os homens.» (Palavras, de Nosso Senhor a Maria da Encarnação, fundadora das Ursulinas do Canadá, falecida em 1762).

(4) «In hoc apparuit caritas Dei in nobis, quoniam Filium suum unigenitum misit Deus in mundum ». (1 Ioann, III, 16). Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe  deu seu Filho Unigênito, para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna. (1 João 3,16) . N. do T. 


IV

O coração e o amor

Mas, que cousa une tão intimamente o amor e o coração material? Que verdade experimental baseia, no culto do Coração de Jesus, este fundir, em um mesmo ser, esses dois elementos?

Será a opinião, o preconceito que, no homem, o coração é órgão dos afetos? De nenhum modo, pois, para falarmos tão só no amor eterno e divino do Verbo, claro está que o coração não foi seu órgão, seu princípio físico. Ora, é também objeto de nossa devoção este amor, que no coração de carne tem meramente seu símbolo, seu emblema sensível.

De resto, não costuma a Igreja fundar suas decisões em opiniões científicas controvertidas.

Ao aprovar o culto do Sagrado Coração, valeu-se de uma verdade muito simples, de que ninguém duvida e que basta, de per si, para justificar este confundirmos o coração com o amor.

Em toda parte, com efeito, e em todo tempo, compreenderam os homens que, num sentido verdadeiro, uma coisa só formam o coração e o amor. Dizem: «dou-vos meu coração, meu coração vos pertence» como se dissessem: «dou-vos o meu amor, todo vosso é meu afeto». Para mostrar que amam, apontam o coração, o coração legam, às vezes, como arras de um amor que não falece e transpõe a tumba: emblema de amor sincero foi sempre a imagem de um coração ferido.

Baseia-se este simbolismo na relação que de leve depreendem todos entre os movimentos do próprio coração e os impulsos do amor. Em cada homem é o coração «o centro onde vêm repercutir todas as impressões nervosas sensitivas» (1); é um órgão onde, muito melhor que num manômetro, todo movimento afetivo determina algum abalo. Qualquer afeto da alma se manifesta sensivelmente por uma modificação proporcional no movimento rítmico do coração. Pode uma grande dor, às vezes, deter ou impelir este movimento até alterar o coração, que palpita de júbilo; que um zelo ardente, uma violenta paixão, podem fazê-lo estalar. Assim que, como dizia a S. Margarida Maria, o coração é um «livro de amor» em cujas diferentes pulsações, como em instrumento registrador, asado é ler a série dos afetos de uma alma.

Por isso identificaram os homens seu amor com o coração, onde tão fielmente ecoa.

Quanto mais se estudam as funções fisiológicas do coração, tanto melhor se depreende seu alcance simbólico; mas é manifesto que, sem muito estudo, sempre o pressentiu o instinto popular.

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(1). Claudio Bernard.

Editora Sacrum Cor Jesu

Artigo exclusivo da Editora Sacrum Cor Jesu.


 




 

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